O Ministério da Saúde adverte

Semana passada fui internar minha irmã, de 80 anos, com uma crise de hiperglicemia. Procurei no encarte fornecido pelo plano de saúde e encaminhei para o hospital mais perto de minha residência, ao chegar lá a atendente, depois de uma longa espera, me diz que o plano dela não era mais conveniado com aquele hospital.
Primeira crise de cidadania: você paga e caro um plano de saúde, que seria obrigação do estado, na hora de lhe vender, eles apresentam uma serie de hospitais credenciados, depois trocam tudo, não te comunicam, não substituem por outra opção e você não tem como reclamar, e o pior, continuam te cobrando o mesmo valor. Afinal, eu pago x reais por mês, porque escolhi o plano x, que tinha x hospitais credenciados. Hoje continuo pagando x, só que não recebo em troca as opções que contratei ( quando assinei o contrato). Na "minha terra" quem contrata um serviço, ou recebe o que contratou ou recebe de volta o que lhe foi cobrado indevidamente, caso contrario o contratado é considerado um estelionatário ( vendeu o que não existia).
Ao chegar ao segundo hospital, fomos atendidos prontamente, e a médica de plantão me comunicou da gravidade do caso e da necessidade que ela fosse imediatamente encaminhada a UTI. Prestaram os primeiros atendimentos, aplicaram a insulina.Passada umas 5 horas e diversas providencias médicas , indaguei a médica se o quadro estava sob controle, já que minha Irma não tinha sido encaminhado a UTI.
Segunda crise de cidadania: A medica me informa que o plano de saúde ainda não havia "liberado" a UTI. Imediatamente fui para a parte externa do hospital, tenho a voz muito alta, e liguei para o plano de saúde. O atendente com aquela tonalidade e sentimento de um ViaXox da IBM, depois de me pedir desde o nome ate ao CPF e numero de prontuário diz no "famoso gerúndio " que "estaremos tomando providencias" e que eu retornasse a ligação em 30 minutos.Nesta altura do campeonato, a calma já não era a minha melhor conselheira. Disse que não estava disposto a esperar porque eles já tinham tido 5 horas para dar uma resposta ao hospital, que estaria me dirigindo ao interior do hospital e se ao chegar lá a autorização não tivesse sido dada estaria me dirigindo à TV e ao Procon local.
Ao chegar ao interior do hospital encontrei com a medica já ao telefone com o plano de saude. Ela afasta o telefone do rosto e me diz que o Plano não quer liberar a UTI por se tratar de contrato no prazo de carência. Peguei, ate num ato mal educado, o telefone e "soltei as cachorras" depois de muito falar, disse que quando da assinatura do contrato eu achei que era desorganização da empresa mas que hoje tinha certeza que era má fé.
Terceira crise de cidadania: minha irmã é funcionária publica aposentada, paga este plano há mais de 15 anos. Há aproximadamente 3 meses a empresa responsável pelo plano rompeu o convenio com o Instituto de Aposentadoria Estadual, e todos os mutuários foram obrigados a fazer a escolha de um plano dentre os novos criados. Na época procurei me orientar junto ao Ministério Publico que me informou se tratar de uma simples transferência de plano. Fui à sede do Plano de Saúde assinar a transferência, quando pego o contrato verifico a existência de uma clausula de prazo de carência, depois de muita discussão fui parar na sala de um "coordenador", ele me disse que por falta de um modelo de contrato especifico para o caso estavam usando o formulário padrão, mas que eu poderia ficar tranqüilo que não existia prazo de carência para aquele caso (transferência). Solicitei então que ele colocasse esta observação no contrato, o que foi feito, inclusive com o acréscimo de uma observação feita por mim.
Depois da ciência por parte do Plano de Saúde da observação que houvera feito ao contrato foi feita a liberação imediata do internamento na UTI.
Como estávamos na recepção a medica pediu às funcionarias que providenciarem imediatamente a documentação, eis que 5 minutos depois me apresentam uma documentação para assinatura.
Quarta crise de cidadania: ao verificar a documentação vejo que esta toda em branco. Me nego a assinar. A alegação das funcionarias era que aquele é o procedimento comum para o caso.
Depois de muitas caras feias colocaram minha irmã na UTI.
No primeiro dia de visita , quando chega a minha vez de receber o boletim medico aparece um deputado e três vereadores, como estava junto a recepcionista ouvi toda conversa, de imediato ela diz que as visitas só são liberadas conforme regra do hospital para uma pessoa, então o deputado dá a famosa "carteirada" e solicita que seja comunicado a administração. A recepcionista pressionada liga para alguém que libera a entrada das quatro personagens.
Quinta crise de cidadania: Instintivamente eu levanto a voz e digo que se liberarem para entrada dos quatro no outro dia todos ali presente na sala de espera teriam o mesmo direito e que, eu exigia uma explicação para o fato. Então recebo a "carteirada" de um vereador que acompanhava o deputado, dizendo que eu deveria respeitar a autoridade e blá,blá,blá. Numa frase desmontei-o, "eu espero de vocês não o uso da autoridade para furar uma fila, mas o exemplo de cidadania em respeitar o direito de todos aqueles que estavam ali esperando há horas". O hospital volta atrás na autorização e todo mundo entra na fila.
Sexta crise de cidadania: faço a visita a minha irmã, ao sair encontro todos ainda na portaria, ao me verem vem parabenizar por minha atitude. Até quando será que o povo vai se calar ou aguardar que apareça alguém para reclamar seus direitos.
Três dias depois do internamento de minha irmã, pela primeira vez na vida, minha pressão foi a 10 x 18.
Por isso solicito ao Ministério da Saúde que coloque na porta de todos os hospitais do Brasil a seguinte faixa:
"Exercer seus direitos faz mal a saúde"

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